segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Quatro da Manhã

Todo mundo morre as quatro da manhã. E quem não morre tem vontade de morrer. Quatro horas é quando a balada tá acabando e as pessoas estão chatas e cansadas. É quando só existem dois tipos de pessoas: as que querem ir pra casa e as que nem sabem mais o que é isso. É quando a ressaca começa a bater, é quando se liga pra quem não deveria, é quando se faz o que não pretendia. Quatro horas é aquele momento de constatação da insônia, quando vc se conforma que não dormiu, não vai mais dormir e mesmo que dormisse não adiantaria pois logo é hora de levantar e enfrentar destruído um longo dia ruim. Quatro horas é quando bate o desespero dos momentos maravilhosos que não podem mais voltar. É quando se sente a falta dos amigos que partiram, dos familiares que não estão mais ali. É quando se necessita de um abraço mais que tudo nesse mundo, mais até que respirar, mas não se tem ninguém pra abraçar. Hora de enfrentar os desejos mais obscuros e prescrutar os sentimentos inconfessáveis. O momento exato em que vc se dá conta de cada mentira que tem vivido, é a hora que os sonhos não perseguidos vem assombrar. Também é hora das mais decididas resoluções, aquelas que provavelmente nunca serão postas em prática. Talvez as mais sinceras e mais necessárias. Quatro horas é o que poderia ter sido. Se tivesse feito, se dissesse o que pensava, se recusasse tomar parte. A melhor parte das quatro da manhã são as certezas. Se vc é feliz na sua profissão quando pensa nela nesse horário, então definitivamente vc é feliz. Se vc ama e confia em alguém às quatro da manhã, essa pessoa é pra sempre. Muitas pessoas evitam a filosofia da madrugada. Como alguém me disse uma vez "quem pensa muito, sofre muito". Mentira. Eu já pensei como esse alguém, antes de conhecer e travar amizade com meus monstros particulares. Atualmente nos cumprimentamos, jogamos cartas, contamos piadas e eles me ninam até dormir. Sei que a vida vale a pena porque não mudaria absolutamente nada nela, nem as quatro da manhã.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

...

Apertarem sua bunda na balada.
Sua mãe te chamar de depravada.
Mas mãe,  por que eu?
Se tudo que faço é com corpo meu?

Sua amiga te contar desgostosa
Que você a chamou de invejosa
Mas amiga,  eu jamais diria isso
Ficar se comparando é desperdício

E se eu gostar de jogar
Porque eu deveria me intimidar?
Porque meu gênero precisa ser escondido?
Porque o acesso não nos é permitido?

Mas tudo isso é besteira
E não deveria me importar tanto
Mulher,  não perde a estribeira
Se situa e volta pro teu canto

Foi um elogio,  não foi nada
Acham que eu não entendi direito
A explicação não é complicada
Minha inteligência merece respeito

"Deixa eu te interromper um pouquinho"
"Vou só complementar"
"Vou falar rapidinho"
Na verdade é só pra te calar

Somos todas irmãs
Não duvide do que digo
Porque nós,  todas as manhãs
Sabemos como é enfrentar o perigo